DISCURSO DOUTOR HONORIS CAUSA
Resumo

Magnífico Reitor da Universidade de Luanda, Doutor Alfredo Gabriel Buza;
Digníssimos membros do Senado Académico;
Excelentíssimos convidados;
Minhas senhoras e meus senhores,
Subo a esta augusta tribuna com a alma profundamente sensibilizada e o espírito curvado em reverente respeito, a fim de manifestar, perante tão ilustre assembleia, o meu mais sincero reconhecimento pela outorga do Título de Doutor Honoris Causa, honraria que recebo da nobre Universidade de Luanda com humildade, emoção e um elevado sentido de responsabilidade cívica.
Desde os primeiros instantes, permiti-me dirigir um tributo especial ao Magnífico Reitor e aos Membros do Senado Académico, cuja decisão generosa me honra de forma que jamais poderei esquecer. Esta homenagem não se dirige apenas ao percurso de um indivíduo, mas engrandece, sobretudo, a memória partilhada de quantos me acompanharam na longa e exigente senda da vida pública, militar e parlamentar — companheiros de jornada que, com coragem e entrega, dividiram comigo os desafios e os frutos colhidos em nome do progresso da nossa Pátria comum: Angola.
Neste instante solene e de íntima introspecção, evoco, com profundo respeito, a memória dos meus pais, cujos ensinamentos morais e orientações espirituais se inscreveram de maneira indelével na estrutura da minha personalidade. A eles devo a formação do meu juízo e a firmeza do meu carácter. Aos meus irmãos, exprimo o mais leal agradecimento pelo apoio constante. À minha esposa, Senhora Ilda Kussumua — mulher de convicções firmes e ternura constante — dirijo palavras de especial emoção. Ilda, foste, ao longo dos anos, o pilar silencioso das minhas certezas, o consolo nas horas de provação e a claridade nas encruzilhadas da dúvida. Esta distinçãoo é, também, reflexo da tua entrega infatigável e do amor que nunca se deixou abater.
Dirijo ainda o meu pensamento aos nossos filhos e netos — legítimos portadores das esperanças que se renovam a cada gesto de serviço. Neles reconheço a faúlha viva do futuro, que sempre me impulsionou a lutar por uma nação mais justa, mais solidária e verdadeiramente humana. Que esta honra, que hoje me é conferida, seja para eles testemunho de que a integridade, o labor honesto e o amor ao bem colectivo são os alicerces permanentes da verdadeira nobreza de espírito.
A minha gratidão estende-se, com devoção, à Igreja Católica e aos seus pastores, cuja acção formadora — espiritual, cívica e intelectual — marcou de forma decisiva a minha identidade. Os valores de serviço, de correcção moral e de disciplina interior que me foram inculcados constituíram referências constantes ao longo do meu itinerário público e privado.
Recordo, com emoção, a figura do Engenheiro Agostinho José Vaz de Azevedo e Silva Bon de Sousa Roxo (†), cuja generosa intervenção, entre os anos de 1973 e 1975, tornou possível a continuação dos meus estudos no Seminário Diocesano do Quipeyo, no Huambo. O seu gesto, modesto, mas determinante, foi sinal de um espírito altruísta e atento.
À Senhora Doutora Julinda Sinedima Siudifonya, minha madrinha de formação, deixo um agradecimento profundo. Nos anos difíceis de 1975 e 1976, marcados pela instabilidade e pela carência, o seu auxílio tornou viável a continuidade dos meus estudos no Seminário do Jaú, na província da Huíla, com dignidade e esperança.
Evoco, com respeito, os quatro Comandantes da então 5.ª Região Político-Militar — Miguel João Luís “Ivady”, António José Condesse de Carvalho “Toka”, Pedro Benga Lima “Foguetão” e Salviano de Jesus Sequeira “Kianda” — cuja firmeza, sentido de disciplina e elevado patriotismo contribuíram decisivamente para a minha formação como servidor militar da Nação, sob a autoridade do Comandante em Chefe, Presidente José Eduardo dos Santos.
À eminente figura do Senhor Lopo Fortunato Ferreira do Nascimento, primeiro Primeiro-Ministro da República de Angola, expresso a mais sincera admiração e reconhecimento. A rectidão dos seus princípios e a sua visão administrativa deixaram em mim marcas perenes e inspiraram-me no exercício das funções públicas que mais tarde assumi. Manifesto, igualmente, o meu apreço aos Primeiros-Ministros que lhe sucederam — Fernando José de França Dias Van-Dúnem, Marcolino José Carlos Moco, Fernando da Piedade Dias dos Santos e António Paulo Kassoma — com os quais tive o privilégio de colaborar em conjunturas complexas da nossa história.
Aos colegas e colaboradores que comigo partilharam responsabilidades ao longo de décadas, bem como aos profissionais da imprensa, deixo um testemunho de apreço e reconhecimento. Sem o vosso esforço, competência e lealdade, não teria sido possível alcançar os progressos nos domínios essenciais da desminagem, da reintegração dos antigos combatentes, do apoio às populações deslocadas e vulneráveis, da reunificação de famílias separadas e da construção de infra-estruturas sociais vitais à reconstrução nacional. Esta honra é, igualmente, vossa.
Magnífico Reitor, Ilustres Membros do Senado Académico,
A distinção ora conferida reforça, em mim, o propósito de continuar a servir Angola com modéstia e fidelidade aos valores que dignificam o serviço público. Este título, porém, não se esgota na pessoa que o recebe: ele representa a confiança depositada por toda a comunidade universitária num cidadão chamado a manter-se fiel ao bem colectivo, ao espírito crítico e à elevação moral da Nação.
O Título de Doutor Honoris Causa não constitui uma consagração estática, mas uma convocação ética para o exercício permanente da vigilância cívica e da participação consciente nos grandes debates do tempo presente. Compete ao seu titular, em Angola e no mundo, preservar e difundir o espírito universitário — esse sopro de liberdade, de clareza intelectual e de compromisso com a verdade — e levá-lo à esfera pública, à consciência dos cidadãos e à formação das gerações que se seguem.
É, pois, responsabilidade do Doutor Honoris Causa colocar o saber amadurecido pela experiência ao serviço da razão pública; ser elo entre o pensamento académico e a acção concreta; tornar-se referência de conduta em tempos de incerteza; inspirar pela coerência da vida e não apenas pelas palavras; fomentar o pensamento autónomo e alimentar o espírito de pertença nacional enraizado na justiça, na memória partilhada e na solidariedade.
No contexto angolano, essa missão reveste-se de significado particular: ao Doutor Honoris Causa cabe ser guardião da nossa memória colectiva, artífice da reconciliação, defensor dos princípios republicanos e promotor de um humanismo patriótico que rejeite o determinismo histórico e acolha, em seu lugar, o imperativo da esperança. O seu exemplo deve ultrapassar as fronteiras da competência técnica e transformar-se em testemunho de cidadania responsável e consciência nacional desperta.
Magnífico Reitor, Senhores Membros do Senado Académico,
Ao concluir estas palavras, renovo a minha mais profunda gratidão à Universidade de Luanda. Este título, que hoje me é atribuído, não simboliza um ponto de chegada, mas o reforço de um compromisso. Que ele me encontre, não sobre um pedestal, mas numa senda de serviço constante; não na vanglória do passado, mas na humildade de quem permanece ao serviço do presente e empenhado na construção do futuro.
Que esta honraria sirva de inspiração a todos quantos, com espírito de missão e sentido de responsabilidade, se dedicam à edificação de uma Angola mais justa, mais fraterna e mais luminosa. Unidos pelo saber, animados pela dignidade e sustentados pela esperança, prossigamos, lado a lado, na construção de um destino nacional à altura dos nossos sonhos mais elevados.
Muito obrigado.
Luanda, aos 16 de Junho de 2025.
João Baptista Kussumua